Texto publicado no Instagram em 5 de março de 2020

A língua que fala mais alto para eu falar com meus filhos é o português. Ela é aquela através da qual eu consigo transmitir meu carinho e aquela da qual eu tenho mais domínio para dizer o que quero. Ela é a minha língua do coração. E é ela que quero falar com meus filhos e ponto final.
Hoje, faz dez anos que embarquei para a Alemanha. Dez anos. E, além desses anos aqui, eu já tinha contato com a língua e a cultura alemã desde o colégio. O que eu percebi, e não faz muito tempo, é que acabei construindo uma relação emotiva com elas.
Há dez anos, vim fazer Au-Pair na casa de uma família, a qual em alemão a gente chama de Gastfamilie. Eu lembro que ia buscar o mais novo na escolinha e eu já ouvia de longe: “Ole, du bist abgeholt”. Eu achei essa frase tão particular e adorava ouvir. Ao pé da letra significa: “Você está sendo buscado”. Nós não usamos assim em português. Simplesmente falaríamos: “Vieram te buscar” ou “Hora de ir para casa”. A primeira vez que ouvi isso dos amiguinhos do Oliver, meu filho, meu coração vibrou e pensei: “Olha só… aquela frase que eu gostava de ouvir quando ia pegar o mais novo!”. Além disso, veio aquela lembrança boa de como foi bom aquele ano com a família em que fiz Au-Pair.
E como já comentamos por aqui, a língua sempre traz muito mais do que isso, traz música, sabor, cultura etc…
Algumas músicas infantis, que ouço pelo Oliver, também me enchem de carinho e saudade quando lembro da minha professora preferida de alemão que ensinava para a gente com tanto entusiasmo.
Quando faço Pfannkuchen (panquecas), me lembro, toda vez, que sufoco foi a primeira vez que fiz panquecas para as crianças da minha Gastfamilie. Eu era um pouco mais um zero à esquerda na cozinha do que sou hoje. E como é bem típico aqui, eu faço de vez em quando. O Jörg, meu marido, adora, fala sempre que são iguais às da mãe dele e minha lembrança vai lá pro meu primeiro ano aqui na Alemanha. Às vezes, eu penso que esse primeiro ano aqui foi como se fosse a minha infância alemã, pois vivi várias experiências e tradições pela primeira vez..
E por aí vai… esses são só alguns exemplos que esbarram em mim no meu dia-a-dia e que me fazem pensar que, por mais que o alemão não seja a minha língua materna, eu tenho muito carinho por ela pelas lembranças boas que ela me traz.
Você também tem uma relação emotiva de alguma forma com a língua do país para onde você se mudou? Ou é uma relação mais instrumental, funcional? Conta aqui para a gente!
Escrito por Ana Ehrmann