Em um mundo globalizado como o nosso, os contextos são velhos conhecidos: pessoas se mudam para outro país – sozinhas, em casal, com a família – motivadas pelos mais diversos fatores – trabalho, realização de sonhos, amor. Invariavelmente, levam na bagagem experiências vividas em seu país de origem, histórias de vida, aprendizados, costumes, lembranças, laços… levam uma língua, uma cultura, uma identidade. Tudo impregnado de uma carga – às vezes positiva, às vezes negativa – mas quase sempre emocional e afetiva. Afinal, imigrar em idade adulta significa, na maioria das vezes, “deixar para trás” o país onde passamos, até o momento, a maior parte de nossas vidas. Deixamos o país, mas não deixamos aquilo que ele representa para nós. Valores, símbolos, sons, cores, sabores não ficam para trás. São carregados conosco e, quando nos tornamos mamães ou papais, são transmitidos a nossos filhos, se assim desejarmos, como uma verdadeira herança. Diferente da material, essa é mais próxima daquela que definiu a cor dos olhos, o jeito de falar, de sorrir, o humor e o formato dos dedos: faz parte daquilo que somos. Transmitir essa herança, entretanto, exige amor e dedicação. Amor por aquilo que nos tornou quem somos e dedicação para apresentar, explicar e ensinar. Ter amor pelo seu país não significa concordar ou discordar com os rumos da política, aceitar as injustiças ou considerá-lo livre de problemas e dificuldades. Significa compreendê-lo, entender sua história, seus contornos, seus porquês. E, acima de tudo, valorizar a riqueza da sua cultura, todos os seus milhares de aspectos positivos e tudo aquilo que o torna único. Aspectos esses que, reunidos, formam um mundo instigante, pronto para ser explorado.
O passaporte para a garantia de contato com esse mundo? A língua.
Mais do que um meio de comunicação, a língua é um dos grandes representantes da cultura de um país e a forma de expressão máxima do que há de mais verdadeiro, puro e profundo em nós. Ela é o produto da transformação de nossos sentimentos em palavras e é, acima de tudo, uma valiosa herança. Vamos entender melhor, então, esse termo “língua de herança”?
Nas últimas décadas, a aquisição da língua de herança emergiu como um “novo” campo de estudo. Esse contexto de aquisição de língua, entretanto, não é nem um pouco recente. O desejo sentido por parte de imigrantes de manter a língua adquirida no país de origem e transmiti-la para seus filhos é antigo. Contudo, apenas recentemente o termo heritage language passou a ser utilizado por estudiosos da área. Mais frequente no contexto dos Estados Unidos e do Canadá, o termo é substituído, na Europa e na Austrália, por termos análogos como ethnic minority language (língua étnica minoritária) ou community language (língua da comunidade). O contexto, no entanto, é o mesmo: refere-se a uma língua minoritária, falada por imigrantes e seus filhos, diferente da língua que possui status oficial no país e que é a língua majoritária, falada pela maior parte da comunidade. Os indivíduos falantes de uma língua de herança são, portanto, descendentes de imigrantes e nasceram no país anfitrião ou são crianças que chegaram ao país anfitrião em algum momento da infância ou adolescência.
Se os pais assim desejarem, essas crianças vão aprender – ou manter – a língua do país de origem em casa e, se tiverem sorte, poderão ter aulas dessa língua em uma escola bilíngue, um curso de idiomas ou uma iniciativa de promoção da língua e cultura brasileiras no exterior. A Ana não teve essa sorte – na cidade onde eles moram na Alemanha, não há possibilidade para o Oliver aprender português em uma escolinha –, mas a aquisição da língua acontecerá! O Oli é sortudo, pois a Ana fala com ele apenas em português, desde que ele estava na barriga. Como em tantos casos que acompanho na minha pesquisa, ele crescerá bilíngue e aprenderá as duas línguas naturalmente, conversando com a mamãe, com o vovô e a vovó, com as titias e titios, ouvindo historinhas e cantigas em português e, acima de tudo, sempre brincando. Como o bebê do nosso logo, desenhado a mão com tanto amor pela avó do Oliver: brincando com seus mundos – o da mamãe e o do papai –, ele adquire as línguas, as culturas, e forma seu próprio mundo, cheinho de diferentes experiências e aventuras!
Escrito por Pri
Muito bom esse blog, adorei! Minha filha tbm nasceu na Alemanha, mas diferente do Oli , de pais brasileiros. Falamos somente em português com ela, mas sempre que posso (e sei) tento inserir na fala o alemão , pois com certeza queremos que um dia que ela conheça sua naturalidade alemã, cultura e língua !
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Geisa, muito obrigada por acompanhar nosso blog! A gente acredita que trazer línguas e culturas para a criação dos filhos só possa vir a acrescentar. =D É nosso dever formar cidadãos globais. Um abraço e esperamos que goste dos próximos posts!
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