Hoje continuamos nossa série! O mito desta semana é sobre o codeswitching, tão comum entre as crianças bilíngues e uma grande preocupação para muitas mães e pais. Vamos entender melhor sobre esse fenômeno 🙃? O codeswitching é a transição de uma língua para a outra em uma mesma passagem de fala e tende a ver visto como um déficit ou falta de domínio em ambas as línguas. A criança “mistura-as”, pois não as adquiriu bem. O codeswitching seria, então, o “sintoma” de que algo “deu errado” no processo de aquisição. Bem, antes de tudo, é importante reforçar que a aquisição é um PROCESSO, não é um produto acabado. Estamos sempre em processo de aquisição de uma língua, mesmo quando já adultos (falaremos mais sobre isso futuramente 😉). O que as pesquisas têm revelado é que, ao contrário do que se poderia supor, aqueles que tendem a realizar o codeswitching, são justamente os mais fluentes nas línguas (Meisel, 2004). Os estudiosos têm chegado à conclusão de que o codeswitching é, na realidade, uma ferramenta valiosa. Segundo Baker (2006), esse fenômeno, normalmente, não acontece de forma aleatória. Geralmente, há um propósito e lógica nesse ato da criança de transitar de uma língua para outra. O que ela está fazendo é se utilizar de todos os recursos linguísticos que ela, como indivíduo bilíngue, tem a seu dispor.
Nesse sentido, pouquíssimos bilíngues mantêm suas duas línguas completamente separadas. Mesmo porque, para uma criança que ainda não está na idade de entender o que é uma língua, os limites entre suas línguas não são tão demarcados, tampouco fixos. São fluidos. Para a criança, suas línguas são apenas formas de comunicação. São modos de interagir com o mundo. Então, por possuir mais de um código à sua disposição, a criança bilíngue transita de uma língua para a outra, de forma estratégica, para atender às suas necessidades comunicativas, que são diferentes das de um indivíduo monolíngue, uma vez que este interage com o mundo através de uma única língua. Portanto, o codeswitching não deve ser encarado como uma falha na aquisição. Por usar línguas diferentes em diferentes domínios de sua vida, pode ser que a criança bilíngue possua um vocabulário maior em português do que na outra língua ao falar sobre comida, por exemplo, e que o vocabulário relacionado a coisas da escolinha, por exemplo, seja maior na outra língua do que no português. Tudo vai depender do cotidiano da criança e das suas interações sociais. O importante é ter em mente que, se ela não lembrar de uma palavra em uma língua e recorrer à outra para conseguir se comunicar, está tudo bem. Dê o auxílio que ela precisa e lembre-se: a aquisição da língua é um processo. 😉