Que 2018 venha com harmonia!

O começo de um novo ano é um momento de reflexão, de fechar ciclos e iniciar novos, de fazer listas de promessas (às vezes possíveis, outras vezes, irrealistas 😅), mas, acima de tudo, de agradecer pelo que a vida nos proporcionou, pela nossa saúde, pela nossa família, e de desejar que tudo, incluindo nós mesmos, sejamos melhores no ano que se inicia. O que desejo todo ano – para mim e todos à minha volta – pode ser resumido por uma palavra que é uma das minhas preferidas na língua portuguesa: harmonia. Além da sonoridade – que acho linda – ela define, a meu ver, o segredo para que tudo funcione bem, com calma, tranquilidade e serenidade. Não parece essa a chave para uma vida mais feliz e proveitosa? 😃

Como sabemos, o caos é, sim, também necessário. Ele não pode ser regra, mas mar calmo nunca fez marinheiro bom e é dos tempos de crise, caos, mudanças, inquietações e perturbações que nascem aprendizados, fortalecimentos, amadurecimentos. Ninguém gosta de caos. Ele é desagradável, faz sofrer, nos irrita, nos estressa. Mas, se for bem aproveitado, nos melhora. E não deveria ser esse nosso maior objetivo? Uma versão melhor de nós mesmos?

Tudo na vida é cíclico e tanto o caos quanto a harmonia têm papéis importantes. Mas se eu pudesse desejar o domínio total da harmonia em um aspecto da vida dos nossos leitores, eu desejaria, certamente, que as diferentes culturas, hábitos e costumes que convivem em suas casas estivessem em equilíbrio. Criar filhos em um ambiente em que duas culturas convivem harmoniosamente, em que a diversidade – mais do que respeitada – é valorizada e admirada é um ato de amor cujas dimensões jamais poderiam caber neste post. Ou neste blog todo. O que eu gostaria de fazer, então, é contribuir como posso: trazer argumentos que, se não convencerem, possam, pelo menos, inspirar. O momento do ano é mais do que propício. 😉

Pesquisadores e estudiosos dão o nome de multiculturalismo a esse contexto em que um indivíduo tem contato com e internaliza duas ou mais culturas. Apesar de ser um fenômeno bastante antigo – a presença de duas ou mais culturas em uma mesma comunidade não é, claramente, algo novo – ele remonta ao conceito de biculturalismo, termo que teve origem no Canadá, em 1744, quando autoridades britânicas permitiram aos canadenses franceses uso completo de sua própria língua, sistema jurídico e liberdade para praticar sua religião. Naturalmente, esses já eram hábitos em curso, mas, neste momento histórico específico, tiveram aprovação das autoridades, o que demonstra uma atitude política a favor do bicultural – postura que se reflete até hoje no país. O Canadá é referência no reconhecimento formal do multiculturalismo, no sentido de garantir que recursos econômicos sejam destinados a políticas multiculturais, por exemplo, suporte para meios de comunicação (jornais, televisão, rádio) na língua minoritária, suporte para celebrações da cultura minoritária, aceitação e valorização de códigos religiosos diversos, etc.

O multiculturalismo foi também valorizado por Obama e explicitamente citado em seu discurso inaugural, quando o ex (dói no peito ter de escrever “ex” aqui 😢) presidente afirmou que multiculturalismo é uma força nacional (OBAMA, 2009), baseado no fato – comprovado por pesquisadores – de que indivíduos multiculturais possuem capacidades, percepções e experiências psicológicas únicas que contribuem para a sociedade como um todo. É um fenômeno em destaque, cada vez mais presente, uma vez que contatos interculturais têm apresentado crescimento global constante devido a fatores como imigração, velocidade de viagens e comunicação, presença maciça de corporações internacionais ao redor do mundo.

Através da exposição e internalização de diferentes culturas, indivíduos podem experienciar diferentes formas de aprendizado, perspectivas e percepções do mundo. Essa experiência torna as identidades culturais desses indivíduos mais complexas e enriquece seus repertórios comportamentais e cognitivos, além de proporcionar competências interculturais mais abrangentes. (NGUYEN & BENET-MARTÍNEZ, 2010). Pesquisas recentes mostram que esses processos psicológicos levam a uma complexidade cognitiva maior, maior criatividade e tolerância (PADILLA, 2006). Não é o que queremos para nossos pequenos? 😌

Pesquisas relacionam, ainda, o multiculturalismo a um maior êxito acadêmico 🤓 (FARVER, BHADHA & NARANG, 2002; RÉGNER & LOOSE, 2006). Esses indivíduos possuem habilidades (multilinguismo, maior facilidade de transição entre culturas, sensibilidade intercultural) que são cruciais em um mundo cada vez mais globalizado e necessárias à inovação e ao progresso.

A multiplicidade e a diversidade são necessárias. Elas adicionam, enriquecem. A cultura brasileira precisa ser trazida para dentro de casa, junto à língua, mas precisa conviver harmoniosamente com a outra cultura e a outra língua. Promover ambas as línguas e culturas em casa é formar um indivíduo multicultural, mais perceptivo – socialmente e cognitivamente – mais adaptável a diferenças culturais, mais compreensivo, mais tolerante. Ou seja, um cidadão global. Queremos formar cidadãos preparados para o mundo atual. Um mundo globalizado, onde o multilinguismo e o multiculturalismo prevalecem. Ter uma postura e atitude adequadas a eles trará vantagens inúmeras para o indivíduo e para o mundo.

O que desejamos, de ❤️, para vocês neste novo ano é harmonia. Desejamos que não haja dominantes e dominados. Mas, sim, línguas, culturas e pessoas convivendo harmoniosamente. Adição e não subtração. Multiplicação e não divisão. Dividir, mesmo, só quando for no sentido de compartilhar: nossa cultura, nossos hábitos, nossos costumes, tudo aquilo que nos tornou quem somos. E nosso amor.

Desejamos a vocês um 2018 maravilhoso, harmonioso e multicultural!

Um abraço bem forte! 🤗

Ana & Pri

Neste post, foram citados:

FARVER, J. A. M.; BHADHA, B. R.; & NARANG, S. K. (2002). Acculturation and psychological functioning in Asian Indian adolescents. In: Social Development, 11.

NGUYEN, A. D. & BENET-MARTÍNEZ, V. (2010). Multicultural Identity: What It Is and Why It Matters. In: CRISP, R. J. (ed.) The psychology of social and cultural diversity. Hoboken, NJ: Wiley-Blackwell.

OBAMA, B. H. (2009, January 21). Inaugural address. Acesso disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3PuHGKnboNY

PADILLA, A. M. (2006). Bicultural social development. In: Hispanic Journal of Behavioral Sciences, 28.

RÉGNER, I. & LOOSE, F. (2006). Relationship of sociocultural factors and academic self-esteem to school grades and school disengagement in North African French adolescents. In: British Journal of Social Psychology, 45.

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